Leia íntegra da Moção divulgada hoje durante ato contra violência na praça Santos Andrade
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MOÇÃO DO CONSELHO UNIVERSITÁRIO
NO ATO CONTRA A VIOLÊNCIA DO DIA 11/03/08
Nos 95 anos de história da Universidade Federal do Paraná, esta é a primeira vez que seu Conselho Universitário reúne-se em praça pública, aberto a toda sociedade. Não se trata de uma reunião para tomar decisões, tampouco para analisar processos. Trata-se, sobretudo, de se fazer um apelo, de pedir a reflexão sobre um tema que, infelizmente, invadiu nosso cotidiano, que bate à porta de nossos lares e que atinge nossas famílias: a violência da sociedade em que vivemos.
O assassinato da Professora Maria Benigna Martinelli de Oliveira, Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná, foi um ato de tamanha violência que mais uma vez chocou nossa sociedade. Maria Benigna, além de professora e pesquisadora de nível internacional, era um ser humano excepcional. Dedicada à família, ao trabalho, à Universidade, a “Binha”, como carinhosamente a chamávamos, era uma pessoa do Bem, do Bem até no nome. Sua perda nos enche de tristeza e é inestimável para todos. É realmente lamentável, mas se a professora Maria Benigna pudesse nos dizer alguma coisa agora, acreditamos que diria: “Somente com a educação poderemos mudar esse estado de coisas e construir saídas para a crônica questão da violência”.
Portanto, o Conselho Universitário da Universidade Federal do Paraná, a primeira universidade do país e símbolo da cidade de Curitiba, orgulho dos paranaenses e referência para os brasileiros, não poderia deixar de se manifestar neste momento. Escolhemos a escadaria do prédio histórico da Universidade, local de afirmação da cidadania, para fazermos essa reunião. Aqui tiveram início movimentos políticos e sociais que contagiaram a população e transformaram o país.
A questão da segurança pública não diz respeito somente à polícia; é da responsabilidade de todos nós. A violência que impregna nossa sociedade tem raízes profundas, emaranhadas em uma série de fatos que foram acontecendo ao longo de anos, décadas, até mesmo séculos, e que, infelizmente, não podem ser facilmente retiradas da sociedade brasileira.
Com tristeza, reconhecemos que o Brasil vem se transformando em um país de impunidade em todos os níveis, onde a criminalidade e a violência se propagam de forma alarmante. Um país onde a educação e a ciência ainda não são vistas como prioridades. Um país onde boa parte dos políticos não consegue, minimamente, manter uma postura ética.
Todos nós já ouvimos que o Brasil é o país do futuro. Mas que futuro tem um país que mata suas crianças e seus professores? Que futuro terá um país onde seus jovens, por falta de oportunidades de educação e emprego, são presas fáceis do tráfico de drogas? Que futuro terá um país que convive há séculos com tanta desigualdade social e, ainda, depende de políticas públicas pontuais e com resultados discutíveis?
Dada a complexidade da situação não se pode, adequadamente, medir até onde é possível chegar, em termos de violência e insegurança. O fato é que algo precisa ser feito por todos os cidadãos. Que a transformação comece em cada um de nós, dentro de nossas famílias, nas escolas, no trabalho, nas instituições públicas e privadas. Que a Universidade reafirme o compromisso de continuar implantando ações concretas que, por meio da educação, possam promover a transformação do cidadão e por conseguinte, da sociedade. Que os nobres valores do ser humano, como honestidade, solidariedade e ética possam ser transmitidos por todos nós, em cada uma de nossas ações.
Escreveu Paulo Freire: “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Que a força da indignação dos membros de nossa comunidade propicie novos caminhos. Que Deus nos ajude!
Conselho Universitário, em 11 de março de 2008.
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Retirado do site do vereador Pedro Paulo (ver site)