Blog Vanhoni: Quais os principais desafios para a Regional da CIC nesta gestão?
Ton Vargas: O primeiro ponto é a questão fundiária. Nós temos 7 áreas de invasão ainda a serem regularizadas. São ocupações feitas na década de 90. Tem muitas pessoas que já pagaram pelo seu terreno e entraram com o pedido de regularização, mas que a prefeitura ainda não executou. Sem a regularização de área você não consegue saber o número exato de famílias que vivem na Cidade Industrial e isso dificulta inclusive o controle habitacional.
Outro problema seríssimo é a criminalidade. Temos o maior número de crimes de Curitiba e o maior número de crimes contra a mulher. Em contraponto a isso, temos uma estrutura empresarial gigantesca, que ajuda muito a administração, por gerar recursos e empregos, mas que não olha muito para a população mais carente. Ao mesmo tempo nós temos o PIB mais pobre e também o PIB mais rico de Curitiba. 25 % do orçamento do Estado do Paraná está na Cidade Industrial de Curitiba!
A estrutura da prefeitura na CIC, na educação, saúde e abastecimento, é de 26 escolas, 14 CEMEIs, 29 unidades de saúde e 6 armazéns da família. Isso para atender a demanda de 198 mil habitantes. Para você ter uma idéia, a nossa expectativa de fila para creche, no caso do Cemei, é de que teriamos a necessidade de mais 8 mil vagas. Este número ainda é aproximado, nós estamos fazendo um levantamento mais detalhado.
Há, no caso das creches, uma parceria com o governo federal que a secretária Ruberlaine passou para nós, de estarmos trazendo mais 49 Cemeis para Curitiba. A CIC tem a maior área de terrenos públicos na regional para a construção destas unidades e a oferta de vagas deve melhorar bastante com a construção de mais 8 CEMEIs no bairro. A perspectiva é de que nos próximos quatro anos a gente possa estar atendendo de 80% a 90% desta demanda.
Blog Vanhoni: Como é o transporte público na CIC?
Ton Vargas: A maior dificuldade aqui é o terminal de ônibus. Ele fica numa localização não muito central em termos da regional. A CIC tem 17 quilômetros de extensão, é estreita e comprida, e por ser assim este terminal central não consegue atender, por exemplo, a demanda da Vila Verde, da Vitória Régia e do Campo Comprido ao mesmo tempo.
Para a nossa sorte existem pequenos terminais como o Itatiaia e o Caiuá que cobrem um pouco esta demanda, mas a interligação precisa ainda de aperfeiçoamento. Eu acho que a construção do metrô vai ajudar um pouco. Ele não vai cruzar exatamente a CIC, mas pela beirada, através do Pinheirinho. Então, a gente fazendo essa interligação com o Pinheirinho resolve bastante a questão do acesso ao centro da cidade.
Já o transporte interno, dentro da CIC é mais complicado, principalmente nas áreas de ocupação, que englobam em torno de 110 mil pessoas, mais da metade da população do bairro. Por isso, em função da ocupação irregular e não planejada os equipamentos públicos não conseguem atender a demanda e tem comunidades com ruas estreitas demais onde o ônibus não consegue circular.
Blog Vanhoni: E a questão da segurança?
Ton Vargas: Nós temos hoje 5 UPS instaladas no bairro. A avaliação dos moradores é de que a situação amenizou um pouco com a chegada das UPS, mas não se manteve com o tempo. Nós continuamos tendo o maior número de homicídios do municipio, talvez o maior índice de tráfico de drogas, de exploraçao sexual infantil e agressão à mulher. O que podemos dizer objetivamente é que as UPS vieram, mas não resolveram o problema. Existe também uma proposta, desde o ano passado, de construção de um batalhão da polícia militar na região. Nós estamos estudando a possibilidade de doação do terreno. Temos também uma forte presença de Ongs (em torno de 200) que realizam um trabalho importante na área de prevenção à criminalidade, cumprindo muitas vezes o dever do Estado. Destas, tem 7 que trabalham com a recuperação de dependentes de drogas. A parte que faz com que a CIC não seja mais violenta ainda é a parceria destas Ongs com a comunidade. Em termos de estrutura mesmo, temos só as 5 UPS, que não atendem a demanda. Não é a toa que os números refletem isso.
Blog Vanhoni: Há um projeto ou iniciativa do município para tentar reduzir estes números?
Ton Vargas: A proposta que existe, e que o município pode realizar é através da educação, aumentando a oferta de creches, de escolas com ensino em tempo integral, de cursos de profissionalização, de acesso ao esporte e atividades culturais, e também de fazer um intercâmbio com a comunidade lá na ponta, incentivando o trabalho das Ongs que tem desempenhado um papel fundamental no encaminhamento dos jovens.
Blog Vanhoni: Qual o grau de dependência do Centro de Curitiba para o morador da CIC?
Ton Vargas: Aqui na CIC a gente tem uma certa dificuldade de acesso a grandes comércios, mas acho que a procura pelo centro da cidade é pequena. Hoje o Pinheirinho, por ser nosso vizinho bem próximo, cobre esta demanda e a população da CIC trabalha muito por aqui mesmo. São mais de 220 empresas de médio a grande porte. Ao mesmo tempo, a qualificação de mão de obra é necessária.
Há o projeto de uma parceria para a construção de uma escola técnica. O equipamento será cedido pelas empresas, mas a parte pedagógica será feita pelo governo do estado através da Secretaria de Educação. O município vai doar o terreno, o estado entra com a pedagogia e a administração, o governo federal com a construção e as empresas da CIC com a parte profissionalizante. O projeto já está em discussão há três anos e agora começa a andar com mais rapidez. A previsão é de começarmos a construção ainda este ano. Ela vai se localizar dentro de um complexo de vários equipamentos do munícipio em uma área na Vila Nossa Senhora da Luz. Ali, nós estamos encaminhando um projeto através do deputado Angelo Vanhoni para a criação de um Centro Cultural.
Blog Vanhoni: Como será este Centro Cultural?
Ton Vargas: Esse vai ser o grande presente que a gestão do Gustavo Fruet vai trazer para a CIC. O deputado Vanhoni está nos apoiando, houve diálogo com a Caixa Econômica Federal para a liberação de verba complementar e o projeto vai finalmente sair do papel. Hoje não tem nenhum equipamento cultural da prefeitura aqui na CIC. Este espaço vai trazer uma nova energia para a nossa comunidade.
O Centro Cultural será localizado na Vila Nossa Senhora da Luz, com um espaço de apresentação para 280 pessoas sentadas e um palco profissional para dança e teatro. Vai funcionar como um cineteatro e a idéia e trazer uma programação, junto com a FCC, todo o final de semana. Haverá também 7 salas menores para oficinas em áreas específicas como música, dança e ballet, etc. O deputado Vanhoni tem encaminhado o projeto com afinco junto com a ministra Marta Suplicy, já conversaram com o prefeito e a expectativa é de começarmos as obras ainda neste ano.
Outro debate que a gente tem feito com o Aluísio Dutra, que é o nosso secretário do Esporte, Lazer e Juventude, é a possivel construção de um Centro Olímpico na CIC. Hoje temos em torno de 280 atletas especializados. É a unica região que tem um trabalho mais vinculado a questão do atletismo. Os nossos professores ligados à Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude (SMELJ), em parceria com a UNICENP, estão trabalhando no aprimoramento destes atletas, que participam de torneios nacionais e internacionais, e já trouxeram medalhas para Curitiba.
Nós temos a área para comportar a construção deste Centro Olímpico, e como existe um projeto do Brasil com as olimpíadas, nós estamos avançando rapidamente no diálogo com o ministério para trazer recursos e investimentos para futuramente estarmos fazendo a especialização destes atletas. Estamos buscando parcerias com os Correios e com a Itaipu para oferta de bolsas. O efeito disso no futuro da CIC vai ser promissor e certamente terá efeitos positivos também no combate a violência e integração social, que são necessidades grandes da nossa região.
Blog Vanhoni: Existe a perspectiva de alguma ação de memória do bairro, a exemplo do que aconteceu no Sitio Cercado com o Museu de Periferia?
Ton Vargas: Eu vejo essa possibilidade com muito bons olhos. Participei um pouco do processo de formação do MUPE (Museu de Periferia) e senti a importância que tem para a comunidade rever sua história e preservar essa memória. Tem o lado empresarial na formação da Cidade Industrial e tem o lado da comunidade carente. Eu acho que a história aqui da CIC vai precisar de um grande museu. Nós temos 398 associações de moradores que são muito participativas e poderiam ajudar, pois muitas delas tem documentação sobre a história do bairro. Eu espero que na nossa gestão, através da Fundação Cultural e com o apoio da prefeitura a gente possa estar trazendo um pouco mais do orgulho da história do bairro, e que junto com o nosso Centro Cultural uma iniciativa como essa possa aflorar aqui na CIC.
Blog Vanhoni: Ton, fale um pouco sobre você, sua militância e trajetória política.
Ton Vargas: Minha militância política começou num grupo de jovens da igreja católica na Vila Guaíra. Lá construímos o primeiro núcleo do PT. Com 13 anos eu já estava vinculado ao mandato do Vanhoni fazendo movimento estudantil. Fui presidente da União Metropolitana de Estudantes Secundaristas de Curitiba, fui vice presidente da União Paranaense de Estudantes Secundartistas, fui da União Brasileira de Estudantes Secundaristas e travei minha vida política na questão dos jovens, da luta pelo passe escolar e do acesso a educação.
Trabalhei com o vereador Natálio Stica, depois trabalhei com ele como deputado. Acompanho o deputado Vanhoni há 23 anos. Fui membro da direção do Partido dos Trabalhadores por 18 anos consecutivos. Já exerci temporariamente a presidência do PT em Curitiba. Em 2004, fui candidato a vereador. Não me elegi, mas fiz 2.514 votos e fiquei na sexta suplência do partido. Fui chefe de gabinete do Ibama de 2006 a 2008, o que me levou a entender um pouco mais as questões ambientais. Depois voltei a trabalhar com o deputado Péricles de Mello na Assembléia Legislativa.
Antonio Marcos Montaldi e Everton Vargas, respectivamente, coordenador e administrador da regional CIC.