Janeslei Albuquerque, militante da Marcha Mundial das Mulheres e professora da rede estadual, participou da Tribuna Livre da Sessão desta quarta-feira (10), e debateu com os vereadores temas como a violência contra a mulher, educação e políticas para a infância e juventude; convite foi feito pela vereadora Professora Josete (PT)
A Tribuna Livre da Sessão desta quarta-feira (10) na Câmara Municipal de Curitiba foi dedicada a questão da violência contra a mulher. A convite da vereadora Professora Josete (PT), a professora e militante da Marcha Mundial das Mulheres Janeslei Albuquerque levou ao Legislativo Municipal um discurso firme sobre o tema. “A história da mulher na sociedade patriarcal é uma história de violência“, afirmou, fazendo um paralelo com a descrição de Karl Marx sobre a história da humanidade. “Marx dizia que a história da humanidade é a história da luta de classes. Igualmente com as mulheres”.
A vereadora professora Josete iniciou a Tribuna Livre dando um pequeno histórico da Marcha Mundial das Mulheres, que começou no Canadá no ano 2000, e hoje está presente em mais de 159 países. “Inclusive no Brasil, quando em 2010 marchamos da cidade de Campinas até São Paulo, num ato simbólico de representação”, disse.
Em seguida, a professora Janeslei Albuquerque assumiu a Tribuna e lamentou o fato de o machismo ter se tornado “estruturante” na nossa sociedade. “A humanidade das mulheres foi negada durante muito tempo: por exemplo, só adquirimos o direito a voto na década de 1930… e hoje o discurso misógino segue vivo na sociedade, muitas vezes disfarçado de discurso religioso e fundamentalista”, afirmou.
A professora comentou dados sobre a violência do estupro também no caráter social. “O abuso de mulheres mais velhas apaga a memória de uma sociedade; o estupro de mulheres mais novas apaga o futuro dessa sociedade. Por isso que hoje, além de uma violência absurda, o estupro é uma tática de guerra“, lamentou. “Outro aspecto é o casamento: a mulher pode casar quando encontrar um companheiro ou companheira que a faça feliz, e não porque precisa de sustento ou qualquer fachada”.
“Por isso”, continuou, “a história precisa ser recontada“. Janeslei explicou ainda que, devido a essa desvalorização da história da mulher, as profissões que são ocupadas na sua maioria por mulheres também tendem a ser desvalorizadas, como o magistério, a assistência social e a enfermagem.
Políticas para infância
“As políticas públicas para infância e juventude são também políticas públicas para as mulheres e para a sociedade como um todo”, garantiu. “Educar e desestruturar o discurso machista e patriarcal, desde cedo, são passos importantes para a construção de uma sociedade mais justa”.
A professora ainda trouxe dados sobre crimes envolvendo crianças e jovens. “A imensa maioria de crianças e jovens envolvidas com crimes são vítimas!”. Para a vereadora Josete, esse fator acaba com o discurso conservador de diminuir a maioridade penal. “Esse discurso de diminuição da idade penal é atrasado, precisamos avançar nesse debate para não incorrer em políticas públicas equivocadas”, comentou a vereadora. “Também devemos discutir com maior profundidade a divisão sexual do trabalho, por exemplo, a maternidade como aspecto coletivo”, continuou, referindo-se à divisão igualitária dos trabalhos entre homens e mulheres.
Marcha Mundial das Mulheres
Janeslei ainda destacou os cinco princípios do movimento Marcha Mundial das Mulheres: Igualdade, Justiça, Liberdade, Solidariedade e Paz. “Mas não aquela `paz´ resultado de opressão e submissão, e sim uma paz resultante de justiça social”, disse.
A professora ressaltou em suas intervenções o caráter transformador de movimentos sociais como a Marcha, que ao longo da história obtiveram importantes conquistas no campo social. “Se hoje consideramos o voto feminino e os direitos trabalhistas como `comuns´, isso se dá porque movimentos socialistas fizeram uma luta importante no passado para estabelecer essas conquistas”.