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O retorno à morada sempre proporciona uma visão interessante, porque distanciada e próxima; e também defasada e atualizada. Apesar da internete e outras rapidices do tempo real, a presença física é importante, porque nem tudo é captado pelos baites e pelos chipes.

O chofer de táxi me chama a atenção: “São Paulo está mais bonita”. “É?”, eu pergunto, desconfiado. “É sim”, ele responde. “A decisão do prefeito, de retirar ou modificar os outdoors foi uma boa, mudou o visual”. “É mesmo?”, minha desconfiança volta a perguntar, ao mesmo tempo em que penso, curioso, em silêncio: “quem diria, o Kassab [prefeito de S. Paulo, antes vice do hoje governador Serra] está saindo do anonimato”. “E tem mais”, continua o chofer: “diziam que tirar a publicidade ia gerar desemprego. Pelo contrário”. “Como assim?”, pergunto eu, agora de fato interessado na possível nova teoria econômica nascente. Afinal, há tantas… ou melhor dizendo, quase que há uma só, vista de vários ângulos… Mais uma pode fazer toda a diferença.

“Veja”, diz ele: “o pessoal que diz que tirou emprego, só anda em certas partes do centro da cidade, ou perto dos jardins [aqueles bairros nobres de S. Paulo, onde o metro quadrado vale tanto quanto um jeans na Daslu]. Na periferia, tirar os outdoors irregulares obrigou os comerciantes – um monte – a reformar as fachadas e a frente das lojas, que estavam detonadas. Deu emprego pra muita gente”. Teorias da sustentabilidade à parte, fico admirado porque meu súbito amigo conseguiu pelo menos pensar num problema a partir de um ponto de vista diferente, original, demasiadamente pouco exercido em tudo: da periferia para o centro.

Seguimos a viagem e a conversa. Detenho-me neste ponto, para sublinhar isso da volta. Temos uma visão distanciada, porque nossas lembranças físicas mais recentes são bem diferentes do que vemos. Mas ao mesmo tempo próxima: porque os detalhes novos se realçam. Defasada: nossas imagens na memória nos remetem ao passado. E atualizada: o presente nos chama a atenção dramaticamente.

Mas nem tudo exibe mudanças. A “grande” imprensa, por exemplo. Ah…, a “grande imprensa”. Meu Deus, o ramerrão é o mesmo, assim como nas oposições. É claro que os Renans continuam reinando por aí, mas leio com o mesmo já tédio de sempre que a defesa do senador não conseguiu provar que ele é inocente. Ou seja, nada mudou desde os recentes anos passados: quando o acusado é o inimigo [agora que se tornou o aliado do governo errado; antes ele fora do certo, depois do errado, porque o governo que era para ser o certo deu errado (o de Collor), depois foi aliado do governo certo, daí se aliou agora ao governo errado], repito, quando o acusado está no campo inimigo, cabe a ele provar sua inocência. Como no caso do Vavá, irmão do presidente Lula, e até [vejam só quem reapareceu nos quadrinhos do “entenda o caso”!] do Freud Godoy, cujo nome voltou a ser lembrado. Como nenhum crime foi provado contra eles, nem mesmo houve indícios a serem levados a sério [a não ser uma certa jactância exibicionista no caso de Vavá], eles não puderam provar sua inocência. Como não puderam provar sua inocência, são, evidentemente, culpados! E devem continuar no rol dos que atropelam a ética nas listas que povoam nossos jornais. E que alimentam a falta de assunto das oposições, tanto as da direita, quanto as da esquerda [isso me comprometo a comentar numa próxima crônica].

Ler os comentaristas da “grande imprensa” me leva ao encontro – não posso evitar o pensamento – de personagens que parecem estar bem na vida: muitos não saem dos aeroportos [agora, aliás, ficam um pouco mais do que o habitual], falam com voz impostada das maravilhas do “mundo civilizado”, dos “países sérios” e outras colonialices, ao mesmo tempo em que desancam o país em que nasceram e que lhes dá o maná e o caviar. Se parecem estar bem na vida, estão de mal com a vida: o povo não acolhe mais a sua “formação de opinião”, a cada pesquisa o presidente Lula fica lá nos píncaros, vivemos num país com uma trombose ética, é o que parecem vituperar diariamente com amargor, com fel, com jatos sulfurosos saindo de alguma profunda do seu inferno particular.

O país continua com problemas graves, é verdade, e a violência, por exemplo, é um deles. Violência que aponta para o desaparelhamento do Estado que estes mesmos comentaristas defendiam há pelo menos uma década, os recém conversos, duas, os veteranos. Mas eles parecem nada ter a ver com isto. Defenderam a desarticulação dos direitos da cidadania e do mundo do trabalho, a desregulamentação, as privatizações de macroempresas como a Vale do Rio Doce, vendida a preço de deboche (3 bilhões de dólares, avaliada hoje a bagatela de 97 bi a mais!), mas nada têm a ver com esse quadro desalentador que, sem dúvida, quanto à segurança, as cidades brasileiras apresentam ao visitante e ao morador.

Ao mesmo tempo, desprezam o país – o país real, com suas contradições, atrasos e avanços. O povo, é preciso reconhecer isso, está comendo mais e melhor, está viajando melhor em muitos casos. Veja só, meu prezado leitor, minha prezada leitora: tomemos o caso de S. Paulo. Os comentaristas a que me refiro esculhambam o governo Lula pela crise nos aeroportos. Nem examinam a complexidade do problema e das soluções, como isso de se ter que remanejar o horário dos vôos, desafogando os horários de pico e congestionamento, coisa que as companhias aéreas não querem nem ouvir falar devido às famosas ou famigeradas “leis do mercado”.

Li protestos irados dizendo que as vítimas do congestionamento no tráfego aéreo [e que têm, é claro, o direito de reclamar e de serem atendidas em seus direitos] são desprezadas só porque são ricas ou de classe média alta. Mas que se reconheça: pobre, em S. Paulo [em outras cidades também], estava acostumado a ficar cinco horas por dia enfiado num ônibus devastado pelo tempo. E para ir trabalhar! Isso, meus caros e caras, até a gestão da Marta Suplicy ter tido a coragem de implantar os corredores de ônibus em muitas artérias da cidade, combatendo o esclerosamento provocado pelo altíssimo colesterol automobilístico, quando aquele tempo diminuiu, sem falar em que começou a obrigar a renovação das frotas. É claro que pode haver uma dose de revanchismo no comentário sobre os aeroportos: “pelo menos congestionamentos começaram a afetar os granfinos”. Mas se atentarmos que nunca a Polícia Federal prendeu tantos colarinhos brancos, tendo investigado até o irmão do presidente, começamos a ver que a percepção daqueles pobres nada tem de pobreza de espírito. Pelo contrário.

O fato é que vejo, todos os dias, que há todo um país por descobrir, e repensar. Como demonstra, por exemplo, o caso dos estudantes da USP: quem são estes jovens, que desafiaram, com acertos e erros, é claro, o segundo mandatário do país (o governador de S. Paulo, seja de que partido for), e o derrotaram?

“Não será gente de mal com a vida que vai [re]descobrir esse país”, pensei eu na minha viagem de táxi, ouvindo ainda o meu amigo chofer. Enquanto isso, eu reconhecia duas coisas curiosas e instigantes: de fato, S. Paulo está de cara um pouco mais bonita; e de fato o prefeito Kassab está saindo do anonimato.

Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior


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