A cobertura feita nos últimos dias pela imprensa brasileira a respeito da queda do Airbus-A320 da TAM, ocorrida na noite da última terça (17/7), é um exemplo “típico” de antijornalismo. A avaliação é do deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), vice-presidente do Parlamento do Mercosul.
“Ao invés de lamentar a tragédia, cobrar a apuração de suas causas e listar as diversas eventuais hipóteses, a mídia desde o início elegeu a pista de Congonhas como o motivo do desastre”, observa Dr. Rosinha. “A pressa em culpar logo o governo ultrapassou os limites da leviandade.”
Dr. Rosinha critica o que classifica como “precipitação” na busca por explicações e culpados. “É preciso investigar e considerar todas as hipóteses possíveis. O que é inadmissível é o uso político da tragédia, que, no caso, foi inclusive instantâneo.”
Jornalistas como Luiz Carlos Azenha, Mino Carta, Paulo Henrique Amorim e Luis Nassif, entre outros, já fizeram uma série de críticas a respeito da cobertura do desastre pela imprensa.
“A edição do ‘Jornal Nacional’ do dia 18 de julho deve ser gravada e guardada”, analisa o jornalista Mauro Carrara no site da revista Novae. “Em termos de distorção nada fica a dever àquela que reproduziu seletivamente trechos do último debate eleitoral de 1989.”
Casos de antijornalismo
Logo após o acidente, o portal UOL publicou matéria da agência Estado na qual um “consultor” em aviação culpa a Infraero por um “assassinato coletivo”. Conforme a matéria, a entrega da obra antes da realização das ranhuras “foi uma irresponsabilidade assassina”.
Ontem (19/7), o jornal “Folha de S.Paulo” publicou —com chamada na capa— um artigo de um psicanalista que escreve o seguinte: “gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estampasse, em letras garrafais, ‘governo assassina mais de 200 pessoas'”.
“A maior causa de mortalidade no setor aéreo brasileiro é um mal implacável chamado incompetência”, escreveu em seu blog o jornalista Josias de Souza. “[A incompetência do governo] já levou à cova pelo menos 342 cadáveres.”
Em seu blog, Ricardo Noblat chegou a afirmar o seguinte: “Por que [Lula] sumiu de circulação evitando esbarrar em jornalistas? Está com medo de quê? O comportamento do presidente soa como uma confissão de culpa”.
Em editorial ontem (19/7), o jornal “O Estado de S.Paulo” decretou que “eventuais falhas técnicas, ou do piloto […] são dados acessórios”. Assim sentencia o editorial: “As causas [do acidente] são a incompetência, desídia, leviandade, ganância e corrupção presentes no sistema de transporte aéreo brasileiro. Perto desses fatores estruturais, eventuais falhas técnicas, ou do piloto, na origem da catástrofe de anteontem em Congonhas são dados acessórios”.